Meu inferno de 8 anos com o crack

Após três décadas sob a influência das mais variadas substâncias, Debora Bell conta como quebrou seus hábitos – que incluíram 8 anos dominada pelo crack – e explica porque acredita que ninguém é um caso perdido.

Debora Bell“A minha jornada começou de uma forma inocente, com o desejo de pertencer e copiar meus amigos mais velhos. Aos 13 eu fumei o meu primeiro cigarro e ao completar 18 comecei a fumar maconha e beber álcool. Quando deixei minha casa na Angola para estudar na África do Sul com meu irmão mais velho, fui apresentada a um estilo de vida de festas e também ao ecstasy e o LSD. Também comecei a usar cocaína, apenas em festas a princípio. Na época, era ‘tudo diversão.’ Nunca imaginei que cairia em uma teia de dependência que viria a me escravizar por anos.

Logo conheci meu primeiro namorado e engravidei. O nascimento da minha filha interrompeu o meu uso de drogas por um tempo, mas um breve retorno à Angola revelou minha vida secreta aos meus pais – que até então não suspeitavam de nada. Eles começaram a notar que objetos estavam sumindo. Ao perceberem que eu estava roubando, vendendo coisas da minha filha e perdendo qualquer senso de responsabilidade, eles enxergaram a gravidade da situação.

Debora Bell motherEu estava arruinando a reputação da minha família e, desesperados por ajuda, eles recorreram a bruxos, mas não adiantou. Continuei só piorando. Quando não estava usando drogas, minha mente era consumida por ideias sobre como conseguir a próxima dose. Em todo lugar onde trabalhava, eu roubava dinheiro para sustentar meu hábito, o que resultou em uma série de demissões. Meus relacionamentos também foram afetados, amigos me abandonaram e até a saúde da minha filha estava sendo afetada. Por eu fumar, ela estava sempre com infecção no pulmão.

Como não podia mais fumar em casa, fui morar em uma boca de fumo, o que deixou meus pais desesperados. Nós nos reuníamos na sala para fumar, enquanto a cozinha era usada para preparar as drogas.Havia sempre um cheiro de fumaça, misturado com odores corporais. As luzes estavam sempre baixas, os móveis quebrados e lençóis manchados. Haviam cachimbos, seringas, isqueiros e outros acessórios espalhados por todo o lugar. Eu sabia que era perigoso, mas não me importava.

Debora Bell After2As pessoas perguntavam porque alguém como eu, com uma família estável, acabou parando em um lugar daquele, mas a verdade é que meu hábito era mais forte que eu. Comida, higiene, sono, nada disso era importante. Tudo o que me importava era o meu próximo ‘barato.’ Após ter sumido por semanas, senti nos ombros o peso dos momentos que estava perdendo com a minha filha e voltei para casa.

Um misto de culpa e alívio me tomou quando fui recebida calorosamente com a comida da minha mãe – um almoço de massa e carne – e pude voltar ao conforto da minha própria cama. Depois de tomar um banho muito necessário, dormi por algumas horas. Porém, o calor inicial rapidamente virou um frio na espinha quando meu pai se aproximou dizendo, ‘Eu sinto muito, mas você não me deu outra escolha.’ Quando menos percebi, uma corrente prendia meus tornozelos, fixada aos trilhos da janela. Por uma semana fiquei confinada em meu quarto, prisioneira na minha própria casa. Ele estava tão desesperado para me ver bem, que sentiu que aquela era a única maneira de me impedir de voltar à boca de fumo. Porém, não adiantou muito pois eu pedia para pessoas irem conseguir drogas e me trazer.

Debora Bell before 1Conforme o tempo passou, aos poucos meus pais foram voltando a confiar em mim.A corrente continuava no meu tornozelo, mas não estava mais presa à janela, então isso me dava mais liberdade dentro de casa. Um dia meu pai estava no trabalho e minha mãe estava recebendo visitas. Ela tinha deixado seu quarto aberto então fui lá, encontrei a chave, destranquei as correntes, roubei um pouco de dinheiro, disse adeus à minha filha e voltei ao meu antigo mundo.

Meu pai, que sabia do meu paradeiro, foi até lá e me deu um ultimato. Eu não resisti. No fundo, estava cansada daquela vida e uma parte de mim queria mudar. Concordei em participar de um programa de reabilitação de seis semanas na África do Sul e tomei a decisão de que nunca mais fumaria crack, apenas cigarros.

Após concluir a reabilitação, tudo parecia estar entrando nos eixos. Eu estava limpa, conheci um bom homem, minha filha veio ficar comigo na África do Sul e acabei me casando, tendo um filho e uma segunda filha. Meu foco se voltou totalmente aos meus filhos e, por um tempo, tudo parecia completo. Porém, não levou muitos anos para eu retornar aos meus antigos hábitos. Primeiro voltei a beber, então a fumar maconha e isso começou a afetar o meu casamento.

O ponto de virada para minha família em geral foi no aniversário de 17 anos da minha filha mais velha, quando duas pessoas invadiram a festa e apontaram uma arma para a cabeça dela. Temendo pela nossa segurança, decidimos nos mudar para o Reino Unido, onde alguns familiares viviam.

Foi nessa nova fase da vida que minhas primas me convidaram para a Igreja Universal,Debora Bell After e eu senti algo diferente de tudo que já tinha experimentado antes. Desesperada por uma mudança, fui à minha primeira reunião de domingo e senti que esse era o lugar onde eu podia encontrar a ajuda que precisava. As pessoas eram gentis e havia uma sensação de paz.

Comecei a frequentar as reuniões das 3pm, para aqueles com dificuldades de quebrar seus hábitos. A princípio eu era inconsistente, mas o que mudou isso foi ouvir o pastor dizer que eu tinha o poder para quebrar aquele ciclo não apenas para mim, mas também para a minha filha. Isso me fez querer lutar mais forte por essa mudança. Eu orei pedindo forças e comecei a frequentar as reuniões de libertação às sextas-feiras, realmente me aplicando ao processo.

Assim como dei tudo de mim para as drogas, decidi colocar força total nisso. A jornada rumo à libertação foi desafiadora, mas com determinação, apoio e fé, eu reconstruí minha vida. Fazem 16 anos que estou livre do crack/cocaína e 2 anos de maconha, cigarro e álcool. Hoje, só de pensar em drogas fico enjoada! Quando compartilho a minha história, sinto como se estivesse falando de alguém completamente diferente.

Debora Bell FamilyA vida continua apresentando desafios, mas a diferença é que agora eu encontrei paz e tenho força interior para encarar qualquer problema de frente. Não sou mais uma pessoa vazia, sou casada e minha família é abençoada. Hoje sou uma mãe e filha amorosa e tenho um novo propósito. Trabalho como cuidadora e tenho estabilidade em minha vida profissional. Já fui considerada uma causa perdida, mas agora a minha história inspira outras pessoas.

Quem poderia pensar que uma pessoa presa aos maus hábitos poderia encontrar a felicidade? Certamente, eu não pensava, mas sou grata pela vida que tenho hoje e sou feliz por ter aceito a ajuda da Igreja Universal. Você pode aceitar também. O que tem a perder? Eu dei uma chance e a minha vida mudou.”

Debora Bell

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