“ELE DISSE QUE SE EU FALASSE ALGUMA COISA, MINHA MÃE MORRERIA”

Nascida na Angola, Lucia Morais foi legalmente adotada por sua tia, abusada secretamente por seu padrasto, e teve que tomar uma decisão que ameaçaria sua vida. Essa é a história de uma garota cuja busca pela paz cruzou uma década. Conheça a sua luta por controle e liberdade e saiba como ela retomou as rédeas de sua vida.

Faziam quatro anos que minha mãe adotiva (a qual vou me referir como mãe) havia conhecido um novo parceiro e ele tinha vindo morar conosco. Meu lar parecia perfeito. A princípio, senti pela primeira vez que eu tinha estabilidade, uma família completa e um padrasto que me considerava como sua própria filha.Lucia Moraes after

Porém, logo minha mãe passou por uma cirurgia e teve que ficar alguns dias no hospital. Faltava um dia para ela voltar para casa e eu estava sentada na sala usando o computador. Como era uma noite muito fria, eu vestia uma calça jeans, uma blusa e um casaco que costumava usar quando estava fora de casa. Meu padrasto estava sentado no sofá assistindo TV e bebendo uma taça de vinho. Meus olhos estavam fixos na tela do computador quando ele disse, ‘Vá colocar seu pijama.’ Relutei em me mover, então ele começou a repetir aquelas palavras em um tom nervoso.

Confusa com sua reação, me levantei e, conforme passava ao seu lado para subir ao meu quarto, ele me segurou e me jogou no chão. Conforme me pressionava com seu peso, seus olhos se aproximaram do meu rosto e ele abriu o meu casaco violentamente. Logo ele começou a fazer o mesmo com a próxima camada de roupa e, desesperada, reagi. Um olhar sombrio dominou seu rosto, como se ele estivesse olhando diretamente dentro da minha alma.

Eu sabia como orar desde pequena, então naquele momento disse a Deus: ‘Por favor, não deixe isso acontecer comigo.’ Assim que terminei a frase, meu padrasto saiu de cima de mim e deu uma gargalhada maligna. Corri desesperadamente para o andar de cima tentando pensar em algum local seguro para ir.

Eu estava completamente sozinha com ele e aquele foi o momento de mais vulnerabilidade em minha vida. Me sentindo fraca, reuni minhas últimas forças para bloquear a porta do meu quarto com o guarda-roupa.

Me deitei encolhida na cama, lutando para tentar processar o que tinha acabado de acontecer. Como alguém podia se transformar de um segundo para o outro daquele jeito?

Jamais pensava que algo do tipo poderia acontecer, então me perguntei, ‘Será que ele mostrou algum sinal e eu não percebi?’

Algumas horas se passaram e, ainda em choque, continuei lembrando daquele acontecimento terrível. Eu estava com muito medo e, ao mesmo tempo, me sentia envergonhada.

Sabia que em algum momento teria que encará-lo e, quando esse momento chegou, ele me ameaçou dizendo que se eu contasse para a minha mãe ela morreria, por causa da cirurgia que tinha acabado de fazer.

Eu acreditei e me mantive em silêncio, mas algo dentro de mim havia mudado. A raiva que senti se transformou em uma grande escuridão interior que eu não consigo nem descrever. Decidi que agora seria ‘minha vida, minhas regras.’ Daquele momento em diante me tornei alguém que nem mesmo a minha mãe reconhecia.Lucia Morares partyingComecei a sair com vários garotos e deixei de respeitar meu próprio corpo. Eu estava tentando escapar do inferno que havia tomado conta do meu interior e agredia qualquer pessoa que fazia algo de errado contra mim.
Minha mãe questionava o meu comportamento, mas meu padrasto dizia: ‘Ela é adolescente, por isso está se comportando assim.’

Haviam passado três meses e eu tentava apagar aquele abuso da memória, mas ao mesmo tempo não conseguia mais guardar aquilo dentro de mim. Decidi contar meu segredo a uma amiga e não demorou para aquilo chegar ao ouvido da minha mãe. Um sentimento de culpa a dominou e ela finalmente entendeu a razão da minha mudança repentina.

Após ela confrontá-lo, as coisas nunca mais foram iguais em casa. Discussões se tornaram algo comum todos os dias, até a situação se tornar insustentável e ela pedir para ele ir embora. Aliviada, achei que tudo tinha acabado, mas logo ele apareceu novamente com um desejo de vingança.Começou a monitorar todos os nossos movimentos e chegou até a ir em casa com uma faca, ameaçando nos matar. Lucia moraes smoking

Durante aquele período conturbado, eu via minha mãe orando fervorosamente para que as coisas mudassem, e isso realmente aconteceu. Ele desapareceu das nossas vidas.

Cerca de um ano depois, minha mãe conheceu outra pessoa e se mudou para a França. Então, ela organizou uma viagem para eu ir conhecer o meu pai biológico na Namíbia. O que eu achei ser apenas uma visita, era na realidade algo permanente.

Minha mãe não veio comigo, ela ficou na França. Eu não conseguia acreditar! Logo descobri que aquilo tinha sido uma ordem do meu pai. Ele não queria nada comigo, mas achava que meus estudos estavam sendo afetados na época. Ainda assim, me senti traída por ela.

Após estudar por quatro anos na Namíbia, minha mãe biológica entrou em contato comigo. Diante daquela oportunidade, fui imediatamente para a Angola com ela.

“Porém, nosso relacionamento era um desastre! Era como se ela estivesse tentando recriar o período perdido após ter me dado para adoção, mas eu já não era mais aquela garotinha de quatro anos, então nós não conseguíamos nos entender e tínhamos discussões explosivas.

Foi quando conheci um homem casado no trabalho e me envolvi com ele. Ele era 20 anos mais velho que eu. Para ser sincera, ele não me atraía, então eu precisava beber para estarmos juntos. Esse foi meu momento mais baixo. Eu bebia até desmaiar e acordava no meu próprio vômito, sem me lembrar de nada que tinha acontecido.

Queria dar um rumo para a minha vida, na esperança de preencher o vazio que tinha, então me joguei novamente nos estudos. O homem casado com quem eu estava me relacionando financiou minha mudança para o Reino Unido e pagou os meus estudos.

A primeira coisa que fiz ao chegar aqui foi encontrar uma Igreja Universal. Passei a frequentar a igreja religiosamente, três vezes por semana, mas ainda assim continuava vivendo aquela vida errada que eu odiava. Quem me olhava podia achar que eu estava em um dos meus melhores momentos, mas por dentro eu era uma verdadeira bagunça.
Aparentava estar bem, mas à noite inundava meu travesseiro com lágrimas. Eu não tinha paz e cheguei até a planejar o meu próprio funeral, pois a morte parecia ser a única saída. Estava certa de que todos ficariam melhor sem me ter por perto. Sempre que minha mãe adotiva me ligava, eu fingia estar bem. Eu postava fotos sorrindo, mas me sentia vazia. Acreditava que se eu falasse que estava bem para as pessoas, aquilo se tornaria realidade.

Eu sentia que não tinha nenhum valor, então fumava e bebia incessantemente todos os dias para tentar esquecer os meus problemas. Fiz uma lista com os possíveis motivos pelos quais eu deveria ser feliz e, em minha mente, eu ‘preenchia todos os requisitos’, mas algo dentro de mim não me permitia encontrar a felicidade.
Mesmo assim, continuei frequentando as reuniões da Universal, até que um dia ouvi o pastor dizer: ‘Para que a sua vida mude, Deus precisa que você troque a sua vida velha por uma nova.’

Eu já tinha ouvido aquilo outras vezes, mas naquele dia especificamente, minha ficha caiu. Entendi que eu tinha que quebrar o meu orgulho e reconhecer que se eu estava há tanto tempo na igreja e a minha vida não mudava, era porque não estava aplicando as coisas que aprendia. Quando decidi finalmente praticar os ensinamentos baseados na Bíblia e usar a minha fé, comecei a ver resultados.

Eu tive que tomar algumas decisões radicais. Consegui terminar o relacionamento com o homem mais velho, mas estava tendo dificuldades para parar de beber.Lucia Moraes after Porém, embora estivesse difícil, lutei com todas as forças. Decidi me abrir para as conselheiras, permitindo que soubessem das partes mais sombrias da minha vida, mas ao aceitar e absorver o apoio oferecido na Universal, aos poucos fui conseguindo vencer todos os meus hábitos negativos.

Percebi que também precisava deixar o passado para trás e perdoei meus familiares e todos aqueles que me magoaram. Me reconciliei com os meus pais biológicos e, através da fé, consegui restaurar a minha vida. Minha família tem visto a minha mudança e hoje eles me veem como uma referência.”

Lucia Morais


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